A verdade matemática e evidente – embora o evidente nem sempre seja notado – é que em uma Copa do Mundo 31 perdem e 1 ganha. Ou, vá lá, ponderando que 20 seleções vêm a passeio, então 11 perdem e uma ganha. É óbvio, é matemático. Mas assim mesmo sofremos a cada Copa perdida como se fose um fato bizarro, uma loucura, algo a ser esclarecido em CPI do Congresso. Não é. Perder, queiramos ou não, é mais comum que ganhar títulos.
Assim mesmo começam as teorias, as suposições, os “cientistas” da bola dizendo o popular “eu já sabia” e coisas do gênero. Sabiam nada, né… Ou, se sabiam, erraram na Copa das Confederações, na Copa América, nas Eliminatórias, no primeiro tempo contra a Holanda.
Nesse desespero por uma explicação para algo que é matematicamente banal, já recebemos, depois de 2006, um monte de “certezas”. Senão vejamos:
Weggis foi uma farra. Agora fizemos os treinos de preparação em silêncio absoluto.
A seleção reuniu-se na Europa e não sentiu a pressão da torcida em casa. Agora o time foi reunido em Curitiba.
A seleção só tinha astros preguiçosos. Agora optamos pelos operários voluntariosos.
A seleção abusou do número de atacantes. Agora dimunuimos pela metada a presença de jogadores de frente.
A seleção foi vítima dos comerciais ufanistas. Agora os comerciais eram contidos.
A seleção deixava os boleiros boêmios correrem atrás da mulherada nas nights de folga. Agora ninguém botou o nariz para fora da concentração.
A seleção dava entrevistas demais. Agora deu o mínimo possível.
A seleção era filmada o tempo todo. Agora era menos filmada que agente da CIA.
Os jogadores só perseguiam recordes individuais. Agora só importavam os objetivos do grupo.
O treinador era permissivo e educado demais. Agora tínhamos um general com cabelos do Exterminador do Futuro.
A seleção não era unida. Agora todos se amavam.
Algo mais? Você certamente vai se lembrar de algum outro motivo anunciado com pompa e circunstância como “a razão para a perda da Copa de 2006″. No entanto, fazendo tudo diferente, chegamos exatamente ao mesmo local: 3 a 0 nas oitavas, eliminação nas quartas.
Obviamente que existem erros e acertos, existem condutas corretas e erradas, existem atitudes postivas ou não. Mas a verdade é que o futebol é mil vezes mais simples do que alguns querem que nos pareça. Sem tirar os méritos da Holanda, que mereceu ganhar; a verdade é que o ótimo Sjneider meteu uma bola área, ninguém tocou e, para surpresa do próprio batedor, aconteceu o empate. A verdade é que, no primeiro tempo, se o Daniel dispara meio segundo depois, o gol anulado seria valido. E pronto. Muda tudo.
Assim como um impedimento mal marcado contra a Bélgica nos permitiu passar das oitavas em 2002. Um chute de bico de Ronaldo contra a Turquia nos levou à finalíssima e ao penta. E aí, de repente, tudo passa a ser visto como certo e perfeito, o trabalho foi maravilhoso, as pessoas que ali estavam foram brilhantes.
Claro que foram. Mas em um detalhe, um acaso, uma falha de jogador ou árbitro, tudo poderia ter sido perdido. E aí? Diríamos que estava tudo errado? Que o bigode do Felipão era vasto demais para um treinador de respeito? Que dividir o mesmo hotel com a imprensa é um absurdo?
Que o Ronaldo usar aquele corte de cabelo pavoroso “tirou o foco” e desequilibrou o grupo….?
Nada disso.
Vamos usar mais essa derrota para amadurecer. Esqueçamos as teses bobocas, os “culpados”, a “santa inquisição” que precisa queimar alguns coitados para redimir os nossos pecados e dores.
Repito: há atitudes e decisões importantes, há experiências e lições mas, no fundo no fundo, o futebol é simples e, em grande parte, casual.
Por isso nós o amamos e assim ele se fez o maior esporte da humanidade.
http://colunas.sportv.globo.com/expressodabola/2010/07/03/aprendendo-a-perder/
Décio Lopes, do expresso da bola do SPORTV.