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Capital do Ceará, Ceará, Brazil
cearense,ex aluno Marista,canhoto,graduado em Filosofia pela UECE, jogador de futebol de fds, blogueiro, piadista nato e sobretudo torcedor do Ceará S.C. Não escreveu livros, não tem filhos e não tem espaço em casa para plantar uma árvore.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sábias Palavras


"Não existe fracasso no erro, e sim na desistência."

Mário Sérgio Cortella

Texto de Lédio Carmona sobre o acesso do Ceará S.C.



Raramente o futebol é justo. A Série B em 2009 foi um desses minguados casos. Subiu quem merecia. O quarteto que comandou o G4 durante 80% da competição bateu martelo na penúltima rodada e está de volta à primeira divisão. Todos com méritos e trabalho bem-feito. Do Vasco já escrevemos demais. Montou um time razoável, uma comissão técnica de grife e ganhou a segundona. Clube do tamanho do Vasco não tem outra opção. Se joga a B, tem que vencer. E assim foi feito. Agora é montar um time com cara de A, convencer Dorival Junior a permanecer, o que nesse momento é muito difícil, e manter a comunhão com os torcedores. E os outros?


Não me lembro de um time que tenha começado a Série B na lanterna e conseguido terminar no G4. O Ceará foi assim. Campanha irretocável. Superou preconceitos, sacanagens, gol descarado com a mão, receita enxuta e foi à luta. O Vozão bateu no peito e disse: ” A vaga é minha”. Contra tudo e contra todos. Vencendo bairrismo, patotas e hipócritas, camufladamente espalhados pelo Brasil. Seja bem-vindo, Ceará.


O Guarani também está de volta. Campeão brasileiro em 1978, superou uma crise financeira, a desconfiança dos torcedores, apostou na experiência de Vadão, montou um elenco com critério e também subiu. É bom ver o Bugre de volta. Tem tradição, tem história, tem estofo. Não é time de passagem. O Guarani tem uma trajetória. E só tem a somar ao Brasileirão.


E, por último, o Atlético Goianiense, dono do ataque mais positivo entre todas as divisões do Campeonato Brasileiro: 73 gols. Um time que joga voltado para o ataque, até meio romântico, e talvez por isso tenha oscilado tanto na competição. Mas, após idas-e-vindas, o rubro-negro goiano subiu. Também merece os parabéns. Nunca um G4 foi tão perfeito e coeso.

Lédio Carmona é Pai do Pequeno Bob, o niteroiense Lédio Carmona é jornalista há 23 anos. Esteve nas últimas cinco Copas do Mundo. Trabalhou em grandes jornais, como Jornal do Brasil, O Globo e Diário Lance, foi repórter, editor e colaborador da Revista Placar e chefe de reportagem da TV Globo. Atualmente é comentarista do SporTV e blogueiro do GloboEsporte.com. O atual blog é o segundo de sua trajetória na grande rede, iniciada com o Jogo Aberto, espaço que comandou entre 2005 e favereiro de 2009.

Obrigado


Obrigado ao Buiú.

Se não fosse aquele gol do Central aos 36 do segundo tempo, teríamos seguido em frente na Copa do Brasil. Daí, com um pouco mais de sorte, poderíamos ter superado o Vasco na fase seguinte. Lotaríamos o Castelão, relembraríamos o vice de 94, falaríamos mais uma vez que o Ceará tem tradição na competição e, finalmente, chegando às oitavas ou quartas, aquele velho sentimento de dever cumprido se transformaria em desculpa: "é, até que fomos longe".

Obrigado ao Douglas.

Se não fossem os verdadeiros milagres operados pelo goleiro do Fortaleza na final, teríamos sido campeões cearenses. Aí, com a faixa no peito, teríamos coroado a incompetência de um péssimo segundo turno. Teríamos entrado num lenga-lenga de Parque dos Campeonatos X Reconhecimento de Penta X Maior Torcida do Estado e versus tudo que é discussão sem fim. E, por fim, teríamos zoado tanto o nosso rival, que por sua vez teria se reforçado muito mais para a série B e, sem precisar do Chiquinho de Xangô ou Bento XVI, talvez hoje tivesse numa situação menos vexatória.

Obrigado às seis primeiras rodadas.

Se não fosse o desastroso começo de campeonato, provavelmente teríamos prosseguido com o Zé Teodoro. Assim, com uma derrotinha aqui e uma zoninha acolá, teríamos feito a décima sétima proposta para o Givanildo - e escutado o décimo sétimo "não". O tabu de não vencer fora estaria completando 3 anos, e o seis de 16 anos de Série B estaria pintando o 7. PC Gusmão seria treinador do Fluminense. Geraldo, meia do Naútico. E o Mota, bem, o Mota estaria comendo carne de cachorro na Coreia e fazendo uma ruma de gols pra gente ver só no Youtube.

Obrigado ao Wellington Silva, ao Charles Hebert e à Ticiane Falcão.

De coração, gostaria de cumprimentar pessoalmente cada um deles. Dando a mão, claro. Tudo bem, se não fosse o digno trio, poderíamos ter empatado ou até vencido aquele jogo contra o Paraná. Mas aí, pense bem, não teríamos escutado o PC Gusmão garantir para todo o Brasil, na vigésima quinta rodada, que o Ceará iria subir, sim senhor. Não teríamos mostrado para o restante do país o quanto cearense é tinhoso, o quanto temos sangue nos olhos e, principalmente, o quanto nos tornamos invocados quando arengados.

Obrigado à Varicela.

Se não fosse fosse a catapora do Rômulo, é possível afirmar que o Sérgio Alves não teria sido relacionado para nenhuma partida. Certo, sem o Carrasco, poderíamos até estar onde estamos. O Luizinho poderia ter desencantado, o Preto poderia ter voltado a marcar e, inesperadamente, o Éslei poderia mostrar a que veio. Mas, uma coisa é certa, sem as bolinhas vermelhas do Rômulo, não teríamos visto um estádio ir à loucura, vibrando com um gol aos 44 do segundo tempo - literalmente chorado. Não teríamos cantado mais uma vez a música que está virando segundo hino e, o que é pior, não teríamos a imagem de um dos nossos maiores ídolos, aos 39 anos de idade, comemorando um gol feito um menino.

Obrigado.

Não, não vou agradecer ao PC Gusmão, ao Geraldo, ao Michel, ao Mota, ao Boiadeiro, ao Fabrício, ao Evandro Leitão, enfim, não vou agradecer a ninguém que hoje faz o Ceará Sporting Club. Não agradeço porque, simplesmente, não consigo. Com palavras, não. Mesmo sendo redator, mesmo escrevendo trocentos textos, há trocentos anos, definitivamente não sei expressar o tamanho dessa gratidão. Ok, posso até dizer obrigado pelos gols, pelas vitórias e pelo acesso à série A. Se fosse assim, estaria feito. Mas é que pra mim, o Ceará, este Ceará aí, é bem mais do que isso. E é aqui que a coisa começa a ficar preta. E branca. Por exemplo, como que eu posso agradecer pela felicidade de ver um sujeito, que não ia ao estádio há 10 anos, vibrar e marejar a cada gol do Vozão? Ainda mais quando este sujeito é seu próprio pai? Por favor, quem conseguir descrever, aceito currículos. E mais: como é que eu posso ser de fato gentil a quem está fazendo com que nossas crianças tenham mais orgulho em ser Ceará do que torcer um time de SP ou do RJ?

É, acho que é por isso que, no lugar de escrever, torcedor expressa paixão - e gratidão - cantando: Valeu, Vovô. Valeu, Vovô...

Cyro Thomaz é publicitário

Um novo ciclo


Por Felipe Araújo *

Há exatos dez anos, no fim da temporada de 1999, o então presidente do Ceará Sporting Club, Átila Bezerra, participava de uma mesa redonda dominical numa emissora local de TV e avaliava as perspectivas do clube para o ano seguinte. O Ceará acabara de ser tetracampeão estadual; batera na trave na disputa por uma vaga na primeira divisão do Campeonato Brasileiro – perdendo a vaga para o Goiás –; via seus rivais locais afundados em graves crises financeiras; e estava na iminência de fechar uma parceria com o banco Icatu Hartford, que prometia reinventar o modelo de gestão esportiva no futebol cearense a partir da profissionalização dos quadros da administração alvinegra. Para 2000, anunciou o mandatário, o (segundo) pentacampeonato estadual estava garantido e a sonhada vaga na elite do futebol brasileiro era apenas uma questão de tempo em função dos novos ares em Porangabuçu.


Mesmo o mais desconfiado dos alvinegros não poderia imaginar quão infelizes seriam aquelas declarações. A partir de 2000, a era de aquarius para o Ceará virou uma quadra de tristeza e frustrações. O calendário alvinegro passou a ser pautado pelas disputas fratricidas entre seus dirigentes, pela demagogia e pela incompetência administrativa de seus gestores, pela obtusidade e pelo cinismo de setores da imprensa comprometidos com interesses inconfessáveis dentro do clube e, por tabela, pela impaciência da torcida. Com isso, os anos 00 foram uma das piores décadas da história alvinegra: a fogueira de vaidades em que ardia o ego dos tragicômicos “cardeais alvinegros” inviabilizou a parceria com o banco e legou uma herança maldita que durante anos assombrou as contas de Porangabuçu, o clube viu seu principal rival renascer das cinzas, conquistou apenas dois campeonatos cearenses (embora o campeonato de 2004 não tenha sido decidido dentro de campo por conta de uma constrangedora armação da FCF) e balançou por diversas vezes na corda da bamba que dava para o abismo da terceirona.


Ontem, o Ceará chegou por seus méritos (sem precisar ser guinchado de divisões inferiores, ressalte-se) à elite do futebol brasileiro. Uma campanha que emocionou a maior (e mais fiel) torcida do Estado e arrancou elogios mesmo dos comentaristas mais sisudos. Dentro de campo, o time de PC Gusmão soube combinar o pragmatismo tático com a garra exigida pelas arquibancadas. Não houve futebol vistoso, mas houve futebol compromissado. Nenhum novo Zé Eduardo despontou, mas bons jogadores (Mota, Geraldo, Michel, Boiadeiro, Erivelton, Misael, Fábio Vidal e outros) vestiram com muita dignidade a camisa alvinegra e suaram lágrimas junto com a massa.


Fora de campo, a gestão de Evandro Leitão abraçou com seriedade e competência o desafio de comandar a maior paixão esportiva do Estado, implementando novas práticas gerenciais e reerguendo a auto-estima do torcedor alvinegro. Dez anos depois da famigerada barrigada do então presidente alvinegro, que deu início a um ciclo a ser esquecido pelos alvinegros, Evandro tem a oportunidade de novamente olhar para o futuro anunciando uma nova era para o Vozão. Um novo ciclo marcado não pela presunção vazia ou pela vaidade inútil; mas pelo planejamento e pela seriedade no trato com o patrimônio alvinegro. Um novo tempo marcado não apenas pelo desafio de montar times vencedores, mas pela missão de fazer do Ceará um grande clube.


É o que deseja o torcedor alvinegro, que hoje vai dormir bêbado de alegria, comemorando o tão sonhado acesso de nosso time querido. Mas que amanhã vai acordar com o desafio da primeira divisão pela frente.



Parabéns, Vozão!
*Felipe Araújo é jornalista

Classe operária chega... à elite


União do grupo, comando firme, porém compreensivo e amigo, vaidades pessoais passando longe, idem para mercadores de jogadores, líder que defende e intermedia os interesses do grupo e principalmente uma torcida como poucas, esses são alguns dos ingredientes que levaram o Ceará Sporting, após 16 anos, de volta à Primeira Divisão do futebol brasileiro.


Antes, havia um pensamento pequeno: “Subir pra que, só para cair no ano seguinte”. Ouvi isso de um ou outro torcedor, porém mais de diretores. O torcedor alvinegro, renda per capita à parte, sabe da força que tem e por isso pensa grande. Tem consciência de que o seu comparecimento aos jogos é suficiente para bancar as despesas do clube. O que entrar além disso é lucro. E sabe também que o Ceará precisava, antes de tudo, acabar com o velho vício de diretor tirar dinheiro do bolso para pagar salário e bicho de jogadores e comissão técnica.


Agora, que o sonho em preto-e-branco se transformou em realidade, passemos à etapa seguinte. Vamos fortalecer as escolinhas para formar os próprios craques, alvinegrinhos que crescerão na luta pelo objetivo comum: fazer o Ceará grande. E manter a base atual, em busca não apenas de “se manter” ou “não cair”. Afinal, é preciso pensar maior... E continuar sonhando!


Neno Cavalcante é jornalista e dentre outras atividades é um ilustre torcedor do Ceará S.C.