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Capital do Ceará, Ceará, Brazil
cearense,ex aluno Marista,canhoto,graduado em Filosofia pela UECE, jogador de futebol de fds, blogueiro, piadista nato e sobretudo torcedor do Ceará S.C. Não escreveu livros, não tem filhos e não tem espaço em casa para plantar uma árvore.

terça-feira, 15 de junho de 2010

É proibido sonhar.


No passado, o futuro era melhor. Ao menos para minha geração, a dos que tinham 20 anos na década de 60 (Cuba, Che, Vietnã, Bossa-Nova, Cinema novo, Nouvelle Vague, Beatles, tropicalismo etc). Com o que sonham os jovens de hoje ? Minha geração sonhou com a mudança do Brasil (castrada pelo golpe militar de 1964) e do mundo (congelada pela queda do Muro de Berlim). A glogocolonização neoliberal cuidou de privatizar, não apenas empresas públicas e estatais, mas também os sonhos.


Os jovens já não sonham em escala nacional e planetária, exceto no que concerne à preservação da natureza. Sonham em escala individual e familiar: conforto, riqueza, beleza e poder. Quem roubou os grandes sonhos? Por que o vocabulário 'utopia' desapareceu da linguagem corrente e é suspeito aos olhos dos intelectuais europeus?


Quem primeiro falou em utopia (do grego utopos, lugar nenhum) foi Hesíoso, poeta do século VIII a.C., em seu famoso texto "Os trabalhos e os dias". Evoca os homens que viviam como deuses, "sem preocupações em seus corações, protegidos da dor e da miséria. "Ninguém envelhecia e, dotadas de vigor incansável", as pessoas desfrutam das "delícias dos banquetes". "Não conheciam o constrangimento e viviam em paz e abundância como os senhores de sua terra."


Hesíodo não nutria veleidades nostálgicas. Seu texto aproxima-se mais da literatura profética que da idílica. A era de ouro havia desaparecido porque os homens "não foram capazes de evitar a violência imprudente entre si e não queriam reverenciar os deuses. " Agora, diz Hesíodo ao comparar a realidade ao sonho, não há "nenhum amor entre amigos ou irmãos, como no passado. Os contraventores saquearão as cidades uns dos outros e o poder fará a lei e o pudor desaparecerá."


A palavra 'utopia' foi cunhada por Thomas Morus em 1516, como título de seu mais conhecido livro. Essa ideia de que em tempos primordiais havia uma sociedade perfeita e que nos cabe, agora, resgatá-la, é mais acentuada nos filhos da tradição judaico-cristã. O mito bíblico do Paraíso isento de toda dor e pecado ecoa forte em nosso inconsciente. Aquilo que foi, será. Nem Marx logrou libertar-se do paradigma bíblico. Seu comunismo primitivo, imune à alienação e exploração, é a imagem de um passado refletido no futuro: a construção da sociedade comunista, onde haverá a adequação entre existência e essência do ser humano.


Em que ponto da Terra sobrevive a utopia que, no século XX, mobilizou milhões de militantes dispostos a dar a vida para que todos tivessem vida? O fundamentalismo islâmico não se compara ao ardor dos jovens revolucionários. Estes queriam mudar o mundo, não impor uma crença religiosa; buscavam implantar a justiça, não a predominância de uma fé; almejavam uma nova sociedade, não a hegemonia de uma religião; vislumbravam o êxito na derrubada do poder opressor, não na morte coroada pelo martírio.


O socialismo foi uma grande utopia de minha geração. Sonhávamos com uma sociedade na qual ninguém estaria ameaçado pela fome, a guerra, a exploração, a discriminação e a marginalização. A Rússia foi a primeira a implantar, em 1917, o novo sistema esboçado na crítica de Marx e Engels ao capitalismo. Em 1949 o gigante chinês deu o mesmo passo.


Embora o socialismo tenha representado grandes avanços quanto aos direitos sociais, não tardaram a se repetirem as "desilusões de Hesíodo" : crimes de Stalin, Revolução Cultural chinesa, imperialismo político, a ditadura do proletariado reduzida à ditadura dos dirigentes do partido único etc.


Hannah Arendt, militante da esquerda alemã, ao renegar suas ideias revolucionárias cometeu o equívoco de encarar o marxismo e o fascismo como diferentes versões do totalitarismo. Disseminou, pois, o pensamento antiutópico, hoje representado no Brasil pelo PSDB e pelo PT. Assim, cerrou o horizonte da esperança e reforçou o neoliberalismo.


Para os adeptos do antiutopismo, que já não crêem em sociedade pós-capitalista, há sim identificação entre este sistema e democracia. O capitalismo seria perverso em seus abusos, não em sua essência. Acreditam, portanto, em ser possível "humanizá-lo", sem atinarem para as conexões entre Wall Street e a Etiópia, o bem estar dos países escandinavos e a presença significativa de seu capital e de suas empresas em países emergentes.


Sofre-se, hoje, de distopia, a utopia deteriorada, ceticismo, desencanto, que induzem muitos a se acomodarem tristes em seu canto. O que resta da esperança quando já não cremos em líderes, partidos, doutrinas e ideologias? O que resta quando, à nossa volta, se fecham todas as portas e janelas? Resta a amargura, o desalento, a repulsa ao poder. Esse o momento em que o sistema comemora a sua vitória sobre nós. Esvaziar-nosde utopia, neutralizar-nos, cooptar-nos, eis a tática daqueles que professam o dogma de que "fora do mercado não há salvação".


Quem não sonha com a utopia corre o sério risco de recorrer ao sonho químico das drogas, que sempre termina em pesadelo.
Frei Betto.

A Copa do Mundo começou. Nada mais importa. (3)

Tio, qual a melhor seleção que você viu jogar? A do Brasil de 82. Não, estrangeira. A Holanda de 74. Mas você tinha só 10 anos. Mas eu vi, uai. Tinha TV? Tinha, a cores. Como assim ? A cores, uai, antes era preto e branco. Quê? Preto e branco, só preto e branco, não tinha cor nenhuma, que nem foto antiga. E o que é KNVB? Sei lá. Vou fazer o escudo da Holanda, então. Legal, pode fazer. Era Nike ? Quê? A camisa da Holanda em 74 era Nike? Não, era Adidas. Como é que você sabe? Porque eu sei, uia.

E então contei que o Cruyff era o único do time cuja camisa não tinha três listras na manga, porque ele tinha um contrato de patrocínio com o Puma, usava tais chuteiras, e se recusava a fazer propaganda de outra marca. Naquela época, a camisa da Holanda não tinha o emblema da adidas, e o que indicava a marca eram três listas. Por conta disso, a do Cruyff tinha só duas.

Mas agora é Nike, disse o Gominho. Eu sei, e jogou bem ontem. É a laranja mecânica, disse o Gominho. Onde você ouviu isso? Você falou outro dia, quando contou a história do cara da camisa com duas listras.

Saber essas coisas impressiona bastante as crianças, mas convém não ficar repetindo.