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Capital do Ceará, Ceará, Brazil
cearense,ex aluno Marista,canhoto,graduado em Filosofia pela UECE, jogador de futebol de fds, blogueiro, piadista nato e sobretudo torcedor do Ceará S.C. Não escreveu livros, não tem filhos e não tem espaço em casa para plantar uma árvore.

domingo, 23 de agosto de 2009

A música no período do regime militar



“Você corta um verso, eu escrevo outro

Você me prende vivo, eu escapo morto”

Pesadelo – M. Tapajós e Paulo C. Pinheiro

Alguns são saudosos do Regime Militar. É bom reavivar a memória: entre 1964 e 1985, o país sofreu censura ampla, geral e irrestrita. Nada escapava da ceifa dos censores. O clássico da literatura O Vermelho e o Negro, de Stendhal, foi proibido por causa do “vermelho” do título. Na novela Escrava Isaura, não se podia usar a palavra escravo. A polícia saiu às ruas à procura do autor de Electra, a mando dos militares chocados com a violência da peça teatral. Naturalmente, não encontraram o grego Sófocles, morto 20 séculos antes.

Para calar a voz da nação, por ocasião do golpe militar de 64, improvisou-se uma equipe formada por esposas de militares, ex jogadores de futebol e funcionários públicos desviados da função. Despreparados e apoiados pela FTP e Igreja, os cães de guarda da moral eram implacáveis com quem destoasse dos valores ultramoralistas, antidemocráticos e anticomunistas do regime. Mais tarde, entre 74 e 85, concursos públicos para censores exigiram nível universitário. Os novos censores eruditos e bem informados continuaram tomando decisões pessoais. Além dos critérios de corte serem poucos claros, faltava diálogo entre os diferentes órgãos de repressão e sobrava arbitrariedade. Aldir Blanc conta que viu um general, aos gritos, ordenar a morte de Ney Matogrosso, pois o neto não parava de imitar o seu rebolado. Paulo Coelho ficou preso por um mês por trajar camisa da seleção do Paraguai, o que o delegado julgou um insulto. Mais casos curiosos podem ser conferidos no ótimo site http://www.censuramusical.com.br/.

Pela lógica da repressão, vigiar a cena musical garantia a desmobilização política da sociedade. Para os militares, artistas da MPB, inteligência de esquerda, movimentos operários e estudantil conspiravam para desestabilizar o regime. Os artistas lutavam pelo direito de sobrevivência no mercado de trabalho. Foi um período de grande efervescência cultural e política, onde a chamada música de protesto floresceu e se tornou a grande trincheira de resistência ao autoritarismo.

Entre 66 e 72, os festivais da canção fomentaram o protesto pacífico. A MPB driblava a censura com letras repletas de metáforas. Chico Buarque, contra a própria vontade alçado ao posto de bardo opositor, teve 40 musicas vetadas, a metade por razões políticas. Abusando do duplo sentido, são dele “Cálice” e “A Rita” , composta um ano após o golpe da Dita(dura), que, “além de tudo,me deixou um violão”. Em “Acorda amor” , canção onde diz ter medo de ladrão do que dos militares, burlou censores com o pseudônimo de Julinho da Adelaide. Com o endurecimento do regime, Chico espontaneamente exilou-se na Itália. Menos sorte teve Geraldo Vandré, o irado compositor de “Pra não dizer que não falei de flores” : lenda viva após o exílio do Chile desagregou-se como pessoa pública. Em 89 inexplicavelmente compôs “Fabiana”, uma homenagem à FAB.

A maioria das letras, no entanto, era vetada por questões morais. Para preservar a imagem de nação com rígida moral cristã, a censura policiava a anti-metáfora da música de protesto, a música simples e direta ao povo. Odair José, o terror das empregadas, foi perseguido por versos que feriam a hipocrisia puritana. Teve “A Pílula” censurada por pressão da igreja. Luiz Ayrão, cantor brega mais engajado, compôs no 13 aniversário do golpe “há treze anos te aturo e não agüento mais” à qual deu o nome de “Divórcio”. A censura não percebeu.

Nos versos da canção, amordaçava-se o canto de um povo, num clima de paranóia. “Tortura de amor” , de Waldick Soriano, foi vetada por causa da palavra tortura. A censura à “Curvas da Marquesa de Santos”, de Luís Nassif, justificava : personagem histórica não podia ter curvas. Em “Casa Forte”, de Edu Lobo, faltou letra e a música foi proibida. “Pra não dizer que não falei de flores” e “Disparada” foram vetadas na voz do autor, mas Jair Rodrigues podia cantá-las. Ter ou não a obra liderada era,nas palavras de Chico Buarque, roleta russa. “Apesar de você” crítica a ditadura disfarçada de querela amorosa já tinha vendido 100.000 compactos quando foi censurada. Em “Bolsa de Amores” Chico comparava uma garota às ações da bolsa de valores “moça fina, ordinária,ao portador”. Teve que trocar o “ao portador” por “sem valor”. Em “Trocando em Miúdos” aplacou censores acrescentando “e nunca leu” ao “devolva o Neruda que você me tomou”.

Aquele foi um tempo de patrulha ideológica interna. Em 72, Wilson Simonal desentendeu-se com o seu contador. Para vingar-se, o advogado espalhou que o cantor delatava colegas contra o regime militar. Foi o suficiente para levá-lo ao ostracismo. Faleceu, em 2000,antes de ver seu nome absolvido pela Comissão de Direitos Humanos da OAB. Caetano Veloso, por seu estilo independente, era taxado como subversivo pelos militares, e de “entreguista Odara” pelos colegas engajados.

Alguns artistas aderiram ao regime da potência de “amor e paz”. Don e Ravel assinaram a marchinha “Eu te amo, meu Brasil”. Jorge Ben compôs “Brasil Tropical” e “Brasil” e Zé Kéti foi o autor do hino do sesquicentenário da independência.

O começo do fim da longa e tenebrosa nevasca cultural foi em 1979. O recém criado Conselho Superior de Censura abrandava a atuação repressiva. Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas gerações, Chico e Francis Hime compuseram o samba “Vai Passar”, hino da campanha das DIRETAS JÁ. Em 88 o ciclo de fechou com a promulgação da nova constituição. O grito de guerra do início da ditadura militar, de João do Vale – “Carcará pega, mata e come” – enfim silenciava. Era o fim do regime do “Pisa na fulo,mas não maltrata o carcará”. Que ele descanse em paz, sem direito à ressurreição ou a vida eterna.

Vivemos em outros tempos, então aproveite o seu tempo.

Thiago Oliveira Braga

Visão melhor


Salmo 73.1-3a

Quando nos vemos deficientes em sabedoria, não é porque a Palavra de Deus tenha páginas que estejam faltando, mas porque não temos visto tudo o que há nas páginas que já temos. Não precisamos de outro livro, mas de dar mais atenção ao livro que temos; não demandamos mais conhecimento, mas uma visão melhor para vermos aquilo que já foi revelado em Jesus Cristo.

Não há dúvida quanto a isso! Deus é bom - Bom para as pessoas boas, bom para os que são bons de coração. Mas eu quase deixei de ver isso, Deixei de ver sua bondade. Eu estava olhando do outro lado...

Por Eugene Peterson