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Capital do Ceará, Ceará, Brazil
cearense,ex aluno Marista,canhoto,graduado em Filosofia pela UECE, jogador de futebol de fds, blogueiro, piadista nato e sobretudo torcedor do Ceará S.C. Não escreveu livros, não tem filhos e não tem espaço em casa para plantar uma árvore.

sábado, 14 de maio de 2011

E o Flamengo ( e o Egídio) dançou.




Egídio cruza para a área do Ceará, a bola bate na parte lateral da cabeça de um zagueiro e sobra, quicando na entrada da área. Ligeiro, Léo Moura pega a sobra antes de Geraldo e cabeceia pro alto, buscando o meio da área, e logo avança em velocidade. "É o toca me voy, amigo", diria Galvão. Enquanto Léo adentra a grande área, a bola encontra o maior talento do atacante Wanderley: escorar pelo alto. O atacante sobe e desvia para o penetrante Léo, que chuta a gol, de primeira. Fernando Henrique já foi batido. A bola vai entrando, mas o zagueiro do Ceará, aquele mesmo que tomara** a bolada na lateral da cabeça, talvez atordoado, consegue dar um peteleco na bola, incapaz de jogá-la para fora. Egídio, que assistiu privilegiadamente a estes intensos e memoráveis segundos, já ensaiava uma dancinha malemolente enquanto o escorador Wanderley, ludibriado pela furada do zagueiro, se desequilibrava na pequena área. Agora é necessário fazer uma pausa.



O gol estava na conta, Egídio já fazia dancinha, a torcida suspirou e fez aquele imenso silêncio que precede o gol. O futebol esgarça as emoções e nos convence de algo só para, segundos depois, consagrar o contrário, o extremo oposto daquilo de que nos convencera**. Que se desfaça a pausa.



O toque do zagueiro bolado não foi suficiente para jogar a bola para fora, mas, por uma brecha nas leis matemáticas, a bola resvalou no travessão e voltou à pequena área. Egídio cancela a dança, Wanderley cancela a queda e, de quatro no gramado, se levanta, dentro da pequena área, desta vez sem goleiro, sem zagueiro. Ele está em frente à trave, no máximo a um metro dela. Dejavu de um segundo atrás, tudo de novo. Egídio pula e prepara um soco no ar, um segundo depois de cancelar a dança malemolente. Wanderley, mais desequilibrado do que bêbado descendo ladeira, cabeceia para o gol vazio. E acerta a trave. Redejavu, Egídio cancela a comemoração de novo. Fim da linha para o Flamengo. Este lance, crucial, teve oito segundos de duração, mas a intensidade de uma tragédia. Oito segundos, duas danças de Egídio, sete toques na bola, dois na trave, dois verbos no mais-que-perfeito e este asteriscão.



** Muito feliz por usar o pretérito mais que perfeito.