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Capital do Ceará, Ceará, Brazil
cearense,ex aluno Marista,canhoto,graduado em Filosofia pela UECE, jogador de futebol de fds, blogueiro, piadista nato e sobretudo torcedor do Ceará S.C. Não escreveu livros, não tem filhos e não tem espaço em casa para plantar uma árvore.

sábado, 3 de julho de 2010

Adorando ganhar mas aprendendo a perder.

A verdade matemática e evidente – embora o evidente nem sempre seja notado – é que em uma Copa do Mundo 31 perdem e 1 ganha. Ou, vá lá, ponderando que 20 seleções vêm a passeio, então 11 perdem e uma ganha. É óbvio, é matemático. Mas assim mesmo sofremos a cada Copa perdida como se fose um fato bizarro, uma loucura, algo a ser esclarecido em CPI do Congresso. Não é. Perder, queiramos ou não, é mais comum que ganhar títulos.




Assim mesmo começam as teorias, as suposições, os “cientistas” da bola dizendo o popular “eu já sabia” e coisas do gênero. Sabiam nada, né… Ou, se sabiam, erraram na Copa das Confederações, na Copa América, nas Eliminatórias, no primeiro tempo contra a Holanda.



Nesse desespero por uma explicação para algo que é matematicamente banal, já recebemos, depois de 2006, um monte de “certezas”. Senão vejamos:

Weggis foi uma farra. Agora fizemos os treinos de preparação em silêncio absoluto.

A seleção reuniu-se na Europa e não sentiu a pressão da torcida em casa. Agora o time foi reunido em Curitiba.

A seleção só tinha astros preguiçosos. Agora optamos pelos operários voluntariosos.

A seleção abusou do número de atacantes. Agora dimunuimos pela metada a presença de jogadores de frente.

A seleção foi vítima dos comerciais ufanistas. Agora os comerciais eram contidos.

A seleção deixava os boleiros boêmios correrem atrás da mulherada nas nights de folga. Agora ninguém botou o nariz para fora da concentração.

A seleção dava entrevistas demais. Agora deu o mínimo possível.

A seleção era filmada o tempo todo. Agora era menos filmada que agente da CIA.

Os jogadores só perseguiam recordes individuais. Agora só importavam os objetivos do grupo.

O treinador era permissivo e educado demais. Agora tínhamos um general com cabelos do Exterminador do Futuro.

A seleção não era unida. Agora todos se amavam.



Algo mais? Você certamente vai se lembrar de algum outro motivo anunciado com pompa e circunstância como “a razão para a perda da Copa de 2006″. No entanto, fazendo tudo diferente, chegamos exatamente ao mesmo local: 3 a 0 nas oitavas, eliminação nas quartas.



Obviamente que existem erros e acertos, existem condutas corretas e erradas, existem atitudes postivas ou não. Mas a verdade é que o futebol é mil vezes mais simples do que alguns querem que nos pareça. Sem tirar os méritos da Holanda, que mereceu ganhar; a verdade é que o ótimo Sjneider meteu uma bola área, ninguém tocou e, para surpresa do próprio batedor, aconteceu o empate. A verdade é que, no primeiro tempo, se o Daniel dispara meio segundo depois, o gol anulado seria valido. E pronto. Muda tudo.

Assim como um impedimento mal marcado contra a Bélgica nos permitiu passar das oitavas em 2002. Um chute de bico de Ronaldo contra a Turquia nos levou à finalíssima e ao penta. E aí, de repente, tudo passa a ser visto como certo e perfeito, o trabalho foi maravilhoso, as pessoas que ali estavam foram brilhantes.

Claro que foram. Mas em um detalhe, um acaso, uma falha de jogador ou árbitro, tudo poderia ter sido perdido. E aí? Diríamos que estava tudo errado? Que o bigode do Felipão era vasto demais para um treinador de respeito? Que dividir o mesmo hotel com a imprensa é um absurdo?

Que o Ronaldo usar aquele corte de cabelo pavoroso “tirou o foco” e desequilibrou o grupo….?

Nada disso.



Vamos usar mais essa derrota para amadurecer. Esqueçamos as teses bobocas, os “culpados”, a “santa inquisição” que precisa queimar alguns coitados para redimir os nossos pecados e dores.



Repito: há atitudes e decisões importantes, há experiências e lições mas, no fundo no fundo, o futebol é simples e, em grande parte, casual.

Por isso nós o amamos e assim ele se fez o maior esporte da humanidade.

 
http://colunas.sportv.globo.com/expressodabola/2010/07/03/aprendendo-a-perder/
 
Décio Lopes, do expresso da bola do SPORTV.

E a Copa do Mundo começou. Nada mais importa. (6)


O futebol tem o poder de aprisionar o tempo. Só um jogo de futebol, e somente ele, nos dá a noção quase imediata do que é passado, presente e futuro. Porque o passado a gente costuma esquecer, o presente nunca parece o suficiente, o futuro é algo tão distante e incerto que quando ele chega, a gente não percebe.




No futebol, não. Quando começa um jogo, aqueles minutos em que você ficou na arquibancada esperando começar passam imediatamente a fazer parte do passado, e você sabe disso. A bola na trave é passado, e você sabe disso no chute seguinte, aquele que o goleiro pegou. Esse é o presente, o goleiro pegou. E será passado de novo no próximo gol perdido, no impedimento mal marcado, na falta que não foi.



O jogo está zero a zero, e você sabe que dali a uma hora, 30 minutos, 15, o futuro terá chegado, e não será zero a zero, talvez até seja, mas você saberá que ele, o futuro, chegou, e não é um futuro distante, longínquo e imprevisível, não haverá incerteza alguma quando o juiz apitar, num jogo de futebol o futuro tem hora para chegar, e você pode, então, abraçar todas as dimensões do tempo que são incompreensíveis fora de um estádio.



Futebol não tem outra importância que não seja essa, a chance de viver uma alegria instantânea que dali a alguns minutos pode ser a maior das tristezas, esse jogo de passado-presente-futuro que se resolve em 90 minutos, com um intervalo para respirar.



Ontem fui o mais feliz dos seres humanos a cada gol do meu time, a cada gol do outro, e o pior dos miseráveis quando tudo acabou, quando o futuro chegou. É só um campeonato, uma bola e um gramado, já passou, é passado, mas na hora em que vi esse menino chorando no jornal, a dor voltou para o presente, porque a graça está aí: sorrir, chorar, sorrir, sofrer, e depois esquecer.



Porque a gente sempre esquece, daqui a pouco começa outro campeonato, o sorriso volta, as lágrimas ficam para trás, não há nada, mesmo, mais parecido com a vida do que um jogo de futebol. O menino da foto, os meus meninos que estavam do lado dele debaixo de chuva, todos os meninos do mundo aprendem a viver assim.



Texto escrito pelo Jornalista da ESPN Brasil Flávio Gomes, torcedor da Portuguesa, depois de mais uma uma classificação no campeonato paulista, mas sua reflexão sobre o futebol vale a pena.