Leio nos jornais que o Colégio Cearense do Sagrado Coração vai fechar as portas ao final do ano e fico triste, jururu com tal infausta notícia. Posso parecer de um romantismo gravemente ingênuo, piegas até, por pensar que o colégio onde passei os treze mais preciosos anos de minha vida fosse uma instituição imorredoura. Pois então, sou do tempo em que estudantes amavam seus colégios e deles guardavam lembranças e saudades perenais. Você entrava menino e saía um homem feito, pronto para as lutas da existência. Foi exatamente assim que aconteceu comigo.
Não me interessam nada os motivos pelos quais o Cearense vai cerrar os portões. Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe, como reza o dito popular. O essencial dessa história triste é que ela não vai ter final feliz como nos melodramas e que uma boa parte de minha história pessoal deixará de existir no plano concreto, vai virar saudade quando dezembro chegar. Que bons tempos foram aqueles vividos entre os maristas, aprendendo coisas que de outro modo não aprenderia, pois saí de lá direto para a universidade federal, o que já não seria pouco.
Sim, sei que nada dura para sempre e que um dia a casa de meu pai, onde nasci, não mais existirá, pois tudo nesse mundo é demasiado provisório. Estou plenamente convencido de minha humana transitoriedade, embora ainda pense, algumas vezes, que bem podia não ser assim. Eis a verdade possível: a única eternidade só existe no território da memória. Ser lembrado para continuar existindo. O telefone toca. Um amigo de colégio perguntando se já sei do gravebundo fato. Respondo que sim, notícia ruim chega voando, as alvíssaras viajam a pé, em lento caminhar.
Minha mulher percebe a tristeza em meu olhar, mas resta em silêncio, pois há momentos em que o silêncio se faz imperativo e absolutamente necessário. Nesse momento, me vem à lembrança o refrão do hino do Colégio Cearense, que costumo cantar de pé e com a mão cruzada sobre o peito, sempre que encontro algum amigo de escola: Por Deus, pela Pátria e por Maria, sempre trabalhar, lutar e vencer! E depois de entoar o cântico, repetimos um pro outro: uma vez marista, sempre marista! Como se fizéssemos parte de uma sociedade secreta. Quem sabe, não o sejamos mesmo, a sociedade dos que lembram, amorosamente.
AIRTON MONTE