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cearense,ex aluno Marista,canhoto,graduado em Filosofia pela UECE, jogador de futebol de fds, blogueiro, piadista nato e sobretudo torcedor do Ceará S.C. Não escreveu livros, não tem filhos e não tem espaço em casa para plantar uma árvore.

domingo, 6 de abril de 2008

O PREGADOR e o CONTADOR DE HISTÓRIAS


O PREGADOR e o CONTADOR DE HISTÓRIAS

Elementos para o diálogo entre Eclesiastes e Forrest Gump

Ziel Machado.

1- PARALELO

Os dois autores se colocam diante da vida para fazer uma revisão do que se passou.
Forrest passa pelos principais momentos da história recente dos Estados Unidos, com uma ingenuidade (privilegio de um QI " inferior")que não lhe permite ver todas as implicações do que esta ocorrendo.
E porque deveria? Seu sofrimento foi minorado, e o que realmente lhe toca não são os fatos (que ele descreve de tal maneira que mataria um historiador de raiva), o que lhe toca são as perdas de pessoas significativas (a mãe, o amigo de guerra, e Jenny), e a surpresa da nova vida (descoberta do filho).
Em Eclesiastes a preocupação central é o sentido da Vida. Não se trata de uma pessoa que tem um QI inferior, muito pelo contrário, é um rei que não tem problemas financeiros. Faz então um relato cheio de perguntas existênciais e apresenta uma visão cíclica da vida (como Forrest que no início do fim entra no ônibus escolar, e no fim do filme no mesmo lugar coloca o filho no mesmo ônibus). Não é a História que é cíclica, mas os padrões específicos que são:
· busca pelo poder : encontros com vários presidentes (fora do cerimonial - descaso)
· busca pela acumulação : descaso e a distribuição da riqueza advinda da pesca de camarões, propaganda de raquetes.
· busca pela glória F** futebol, tênis de mesa, herói de guerra (1° enc. com o tenente apos o retorno), capa da fortuna,
O rei Salomão enfoca em seus livros a sabedoria e os estágios pelo que passa.
· Provérbios - questão do manejo de poder
· Cantares - o jovem enamorado
· Eclesiastes - a sabedoria do velho
Percebam que são todos livros poéticos, nada de racionalidade moderna, mas o que chamaríamos hoje de pós-moderno.

Tudo é vaidade! Não só sentido moral, moralista, mas existencial; como um sopro. Algo que é relativo e não tem valor perene, ou seja, sem sentido permanente, relativo, passageiro. Esta é a conclusão de Salomão sobre suas buscas referentes aos padrões específicos (poder, acumulação e glória).

2-TUDO TEM SEU TEMPO ECL. 3:1-15 (síntese do texto de Jorge Atiência)

Nossa vida se desenvolve em uma complexidade de relações pessoais, e nestas relações descobrimos que estamos marcados por experiências passadas que nos trazem tristeza e lembranças desagradáveis. Como lidar com nosso processo de revisão em nossas vidas, como lidar com nosso passado? O pregador nos diz que: "Deus restaura o que passou".
O pregador começa por uma definição do que venha ser TUDO (1-9).
. "TUDO TEM SEU TEMPO”
Debaixo deste todo ele agrupa quatro categorias:
a) as estações da vida: tempo de nascer/morrer
Plantar/ arrancar
b) as emoções : tempo de matar/curar
Destruir/ edificar
Chorar/ rir
Pranto/ alegria
c) dos projetos/ iniciativas: tempo de espalhar pedras/ juntar
Abraçar/afastar
Buscar/ perder
Guardar/ deitar fora
Rasgar/ coser
Falar' estar calado
d) das relações: tempo de amar/ aborrecer
guerra/ paz A vida humana se desenvolve nestas quatro expressões: estações, emoções, os projetos, as relações.

3-COMO É A REALIDADE

Agora está em questão o caráter deste tudo.
a) este tudo se refere ao que esta debaixo do céu, ou seja, uma realidade caída. Não se esta especulando com o que acontece acima no céu, mas sim com a realidade que nos toca viver.
b) este todo não é uniforme, mas um leque de inclui muitas situações diferenciadas.
c) não é um tudo estáticio, mas sim dialético. A paz não seria possível se não fosse precedida por guerra, não poderíamos qualificar amor sem conhecer o ódio, a morte não seria real se não houvesse vida.
As contradições vão forjando as novas situações. Estamos falando de dialética numa realidade caída, não no céu.
d) é uma realidade em processo, não em regressão em direção ao pior, mas um processo de progresso marcado por pólos de nascimento (v.2) e paz (v.8).
Temos aqui uma indicação de que esta dialética da existência humana nos leva a estados de harmonia. Atravessamos por um mosaico de experiências, a maneira como manejamos a vida pode nos levar ao tempo de paz.
O psicanalista Eric Erikson divide a vida em oito estágios, ou ciclos de crescimento, o primeiro e o ciclo de nascimento e o último é o ciclo da integração, que corresponde à idade adulta. Podemos comparar este ciclo de integração com o conceito de paz de Eclesiastes; Shalom.
Quando um chega ao estagio de shalom, chega a um estágio de reconciliação e harmonia com a existência humana, de reconciliação com seu passado, com suas relações e um período de integração. A pessoa procura viver segundo certas convicções e lições que aprendeu da vida, começa então a desenvolver certa harmonia e a colocar as coisas no lugar.
Para chegar a este estagio de maturidade profunda, a pessoa precisa passar por todos os diferentes ciclos, ou estações, viver diversas emoções, e todo este conjunto de relações.

4-O HOMEM E A REALIDADE

O que tem haver esta realidade com o ser humano?
a) Temos uma realidade para viver, não podemos fugir dela, a menos que estejamos sofrendo de algum tipo de esquizofrenia.
b) v.9 É inútil o tentar mudar o estabelecido. A vida vem dada com estes componentes: morte e vida, plantar e arrancar, construir e destruir, abraçar e deixar de abraçar.
c) É importante que o Homem viva cada ciclo, porque de outra forma não estará preparado para viver o seguinte. Partindo do nascimento chegando a morte, é importante que se viva cada ciclo, plantar e arrancar, construir e destruir quando chegue o momento.
ex. de movimentos que desejam ser estáticos, congelar estágios de vida cristã, ficar preso a lembranças ou expectativas.
Existe hora de construir e destruir. Se não nos abrimos aos ciclos normais da vida, não iremos nos renovar. Depois de um período existem coisas que devem deixar de ser feitas, para assumir coisas novas.

5- A REALIDADE NA PERSPECTIVA DE DEUS.

Qual é a relação de Deus com esta realidade?
a) Na primeira analise da realidade que faz o pregador, ele não inclui Deus (3:10-11). O que acontece quando ele leva em consideração Deus?
Precisamos incluir Deus para escapar da tirania do inexorável.
Sem Deus a realidade é detonadora, sem transcendência a Historia nos leva ao cinismo (desistência do curso, existencialismo, niilismo), sem Deus lutamos com um destino e não com um propósito.
ex. F** "Qual é o meu destino mãe ? Não sei, terás que encontrar sozinho!
"Eu não sei se cada um tem seu destino, ou se flutuamos sem rumo como a brisa, talvez as duas coisas aconteçam juntas".
Deus coloca e dá sentido para a História. Um pode perguntar-se que sentido tem construir algo, para onde vamos se tudo é tão cíclico, qual é o propósito?
No v.10 encontramos uma linguagem mais positiva. Deus entra na análise, tudo passa, tudo tem seu tempo, mas Deus limita este tempo e lhe dá sentido. Nesta entrada de Deus vem junto à alegria, a eternidade, o fazer bem. Então:
· Deus é criador do formos (ver com a ótica de Deus). V.11

Mas o que tem de formoso uma guerra, na guerra, no tempo de arrancar?
A formosura não é dada pelo conteúdo, mas sim pelo momento, pela pertinência da experiência. O que acontece no seu tempo é formoso.
Pode haver beleza no conteúdo, mas sobretudo na sua pertinência. Até as experiências mas difíceis, a seu tempo, são sentidas como formosas. As coisas fora do tempo não são belas.

· Deus semeia o eterno
Quando olha para si mesmo com a perspectiva de Deus descobre a eternidade no coração humano.
Deus nos salva da tirania do inexorável ao nos dar a eternidade. Por meio dela sabemos que existe muito mais que as estações da vida, que a vida é muito mais do que alcançamos observar. Isto nos encoraja a avançar, se a vida terminasse no v.8, que sentido teria lutar por ideais?
Deus nos salva das contingências da vida, dos ciclos, colocando a eternidade em nossos corações, e assim nos faz viver com uma nostalgia de um novo ciclo de vida mas também com uma nostalgia do eterno, do absoluto, do significado permanente para viver. Todavia nós podemos compreender esta semente de eternidade, posta em nossos corações.
Implicações: nenhuma teoria ou ser humano pode abarcar a totalidade (psicanálises, materialismo dialético).
· Deus restaura o que passou
Estaremos condenados a: viver marcados por nossas experiências?
Determinismo histórico?
Marcas de guerra?
Das experiências de rejeição?
As marcas do passado são irremediáveis?

Restaurar é fazer com que uma peça volte a ter seu estado original. Mas restaurar aqui não significa viver em estado de primavera, mas voltar a experimentar os ciclos da vida; porque a pessoa marcada pelo passado tende a ficar congelada neste passado.
Quando Deus restaura, Ele tira da situação de amargura, não para viver eternamente em paz, mas para voltar a ser normal; ou seja, enfrentar a vida com seus ciclos e opostos e chega um momento que podemos entender aquilo que passou, sua misericórdia nos permite sair da estação da dor e entrar na graça e Deus nos permite construir a vida com as lições que aprendemos da história.

6- A RESPOSTA DO HOMEM

1- v.10 vi
v. 12 sei
v. 14 sei / entendi

Temos uma progressão ver, conhecer e entender.
1- O que se vê - a realidade que me toca a viver, tenho que aceita-la (realismo x esquizofrenia).
2- Sei/ conheci - a realidade com Deus tem sentido, posso me alegrar e desfrutar. Três elementos entram na historia quando Deus está presente: a celebração, o fazer bem e o sentido do trabalho.
3- Sei / entendi-O que Deus faz é formoso e não deve modificar-se. De nada vale tentar modificar o que foi criado por Deus (ex. casamento), melhor receber como Deus nos deu. (Melhor temer a Deus v.14).
7- Conclusão
1. aceitemos a dialética, assim é a vida.
2. não tratemos de saltar as estações da vida
3. a eternidade nos permite transcender o inexorável. Não estamos presos pelos ciclos da vida, podemos aspirar ao desconhecido, ao que ainda não vivemos.
4. desfrutar do tempo da graça, que nos permite reconciliar com as experiências do passado.
5. Não nos congelemos a uma estação da vida, aceitemos a graça de Deus e sigamos ao encontro da próxima estação.

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