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Capital do Ceará, Ceará, Brazil
cearense,ex aluno Marista,canhoto,graduado em Filosofia pela UECE, jogador de futebol de fds, blogueiro, piadista nato e sobretudo torcedor do Ceará S.C. Não escreveu livros, não tem filhos e não tem espaço em casa para plantar uma árvore.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Dia mundial da filosofia


Hoje é o dia mundial da filosofia. Você sabia ? Pois fique sabendo. Um dia do calendário mundial dedicado à Filosofia foi o que a UNESCO instituiu para que o papel da Filosofia seja fortalecido e para que seja reconhecida sua fundamental importância para a sociedade. Uma nova data para uma prática tão antiga como é o filosofar. Esse dia é a terceira quinta-feira do mês de novembro que, pelo 8º ano vêm sendo comemorado com grandes eventos em todo o mundo e, através desses eventos, se oportunizando a criação de espaços para o diálogo intercultural, para se debater o ensino da filosofia, para gerar novas perspectivas sobre a contemporaneidade e o mundo. Esses eventos marcam a história, reacendendo os debates filosóficos em todo o planeta.

Respeito pelos filósofos

Há quem encare os filósofos como deuses ou como sábios: com muito respeitinho, não ousando discordar deles. Para essas pessoas, as palavras de um filósofo são como a voz de um oráculo que, em vez suscitar discussão, é preciso aceitar e repetir respeitosamente. Mas isso é a própria negação da filosofia, pois é um convite à suspensão da nossa capacidade crítica.

Olhar para os filósofos desta maneira é confundir filosofia com religião. Além de que, por incrível que possa parecer a algumas pessoas, os filósofos são seres humanos como os outros: comem, dormem, amam, choram, vão à praia, usam telemóvel e... erram. Assim, a melhor maneira de respeitar um filósofo é encará-lo simplesmente como filósofo – não como pregador – discutindo criticamente as suas ideias. O que os filósofos querem é respeito, não respeitinho.

Eis, pois, algumas afirmações de filósofos importantes que, com o devido respeito, me parecem disparatadas:

Do que não se pode falar, há que ficar em silêncio. Wittgenstein, o autor desta afirmação, considerava que o mais importante é precisamente o que não pode ser dito. Mas deverá esta afirmação ser levada a sério? Se sim, Wittgenstein está a ser incoerente, pois está a exprimir algo acerca do que não se pode falar. Razão parece ter um outro filósofo, Frank Ramsey, ao comentar que o que não pode ser dito nem sequer pode ser assobiado. Pelo que se vê, Wittgenstein fez mais do que assobiar, pois não conseguiu ficar em silêncio acerca do que não se pode falar.

Até aqui os filósofos têm-se dedicado a interpretar o mundo, porém o que importa é transformá-lo. Marx, autor da frase, dava uma prioridade à praxis (prática ou acção) em relação à teoria. Mas há demasiados exemplos de que a prática, quando não é iluminada por uma compreensão prévia da realidade, acaba por se tornar cega e mesmo perigosa. Como sabemos o que transformar ou sequer se podemos mudar o que ainda não tentámos compreender? E será que é realmente importante mudar o que eventualmente possa estar bem? Não será fundamental saber antes o que está bem ou mal e porquê para sabermos se vale realmente a pena mudar seja o que for? Assim, a ideia subjacente de que a teoria e a prática são coisas divergentes é manifestamente errada e até perigosa.

O que não me mata torna-me mais forte. Disse-o Nietzsche, mas também o dizia a minha avó, que nunca ouviu sequer falar de Nietzsche. E até já a avó da minha avó o dizia também, só que de uma forma ligeiramente diferente: o que não mata engorda. Mas basta pensar um pouco para ver que tanto Nietzsche como a minha avó foram algo precipitados a tirar conclusões, o que se desculpa mais à minha avó do que a Nietzsche. A ideia de Nietzsche é a de que a vida é para ser vivida sem restrições, sem disfarçar a dor e a alegria, como acontece com os mais fortes e corajosos, que nada recusam. Assim, dar o peito às balas é próprio dos mais fortes. Só que há balas que não matam mas moem, deixando-nos fracos e feridos para o resto da vida. Nem Nietzsche nem a minha avó foram incapazes de evitar uma falácia muito comum: a falácia da generalização precipitada.

Claro que as frases destes filósofos têm mais que se lhe diga e o contexto em que foram produzidas pode dar-lhes outro sentido. Mas tem de se começar a discussão por algum sítio e isto é só um princípio de discussão.

A todos que são amigos do saber, parabéns.

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