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Capital do Ceará, Ceará, Brazil
cearense,ex aluno Marista,canhoto,graduado em Filosofia pela UECE, jogador de futebol de fds, blogueiro, piadista nato e sobretudo torcedor do Ceará S.C. Não escreveu livros, não tem filhos e não tem espaço em casa para plantar uma árvore.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O último pôr-do-sol de 2008


Se o tempo existe e é inflexível, não se pode menosprezar o ritual reservado para o dia 31 de Dezembro de cada ano, quando, quer tomemos conhecimento ou não, subimos mais um degrau ou viramos mais uma pagina da história. Na verdade, esse ritual é muito mais amiúde. Ele acontece a cada pôr-do-sol.

Sob o ponto de vista secular, cada dia que passa, mais distanciamos do dia do nascimento e mais nos aproximamos do dia da morte. Sob o ponto de vista cristão, cada dia que passa mais nos distanciamos do paraíso perdido e mais nos aproximamos do paraíso recuperado. Precisamos ter certeza de que nossa história não está comprimida entre a vida e a morte.

Os dois pontos de vista são contrários entre si e estamos totalmente livres para abraçar um ou outro. Mas, há de se convir que o ponto de vista secular oculta a verdade e gera transtornos sérios, inclusive emocionais. Fazemos uma resistência desnecessária e inglória às coisas do espírito. É preciso romper corajosamente e sem demora com essa cegueira doentia e atravancadora de nossa felicidade. Sob o ponto de vista cristão, cada pôr-do-sol indica que o “momento de sermos salvos está mais perto agora do que quando começamos a crer” (Rm. 13.11, NTLH). Em outras palavras, a longa noite do pecado, sofrimento e morte está terminando e a manhã de glória está chegando. Não vamos para 2009 tendo em mente exclusivamente um ano de saúde, e de sucesso. Enxerguemos, também, pela força das convicções cristãs e da fé, aproximadamente maior da plenitude da glória, pois “os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória, pois “os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória por vir a ser revelada em nós”! (Rm.8.18).

Elben César , pela equipe Ultimato

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

E o ano está chegando ao fim


Ultrapassamos a metade do ultimo mês do ano. Se no catálogo dos meses há humores apropriados, o de dezembro é o sentimento de fim de festa, apesar das duas grandes que nos aguardam no fim do mês, Natal e Ano Novo. Agosto é um mês insosso, sem gosto, dezembro traz uma nostalgia imponente, de quem tenta desamarrotar o terno entre os cacos no chão. Dezembrando, começamos a balançar no último trecho da elipse que a terra descreve ao querer circundar o sol. Ciclo terminal arbitrário pois arbitrário foi o início referendado. Aliás, os últimos meses do ano são de uma arbitrariedade escandalosa, se lógicos seriam chamados mais propriamente de onzembro e dozembro. Surpreendentemente, os arbítrios criados sobre os tempos e os espaços são, às vezes, os mais severos árbitros da nossa curta existência.

O olhar nostálgico de dezembro é olhar sobre si próprio, sobre o ano que passou, introspecção e retrospecção quase monástica, a vasculhar especialmente os tropeços de uma alma que jamais abandona a sua vocação imoral. Olhar inútil porque o tempo precisa de tempo para ser percebido e a demissão de Marina da Silva, a eleição de Obama e a crise das bolsas serão objetos de avaliação permanente dos escavadores da história.

Não se espera que aconteça nada de novo em dezembro, como se esgotado em suas reservas. O tempo típico de dezembro não é o futuro, mas o passando, assim no gerúndio, que um particípio voraz tenta frustrado encapsular. Se ainda não compreendemos plenamente o significado do ano de 1968, a festa de quarenta anos que é 2008, estará se revelando pouco a pouco.

É impossível escapar de certa dezembração; dezembro é detalhe em estrutura ecológica de dimensões cósmicas, impregnando o macro e o micro-universo. Os flocos de dezembro que se precipitam sobre a nossa pele não saem com água e sabão; e assim imersos nessa banheira dezêmbrica nos aquietamos adormecentes, escolhendo qualquer saudade para mastigar.

Dezembradamente, vamos nos aproximando pouco a pouco das festas que encerram mês e ano. E são festas sobre começos. Natal, celebração do começo do homem mais celebrado de nossa história ocidental; Ano Novo, recomeço teimoso da insistência da terra em arrodear o sol. Ambas são festas que reúnem passado e futuro, sendo o Ano Novo festa de passagem, festa de intervalo, nem dezembro nem janeiro, mas forçada a começar em dezembro e terminar em janeiro.

Porque por mais que dezembro nos convide à reflexão, por mais que o passado seja cheio de lições e surpresas a dezembromar, precisamos cumprir os ritos de passagem de nossa civilização e, mesmo que isso pareça uma violência, iremos necessariamente ajaneirar.
Marcos Monteiro

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Como eu te amo




Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;


Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua,


Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;


Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;


Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:


————


Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, — mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
O que espero, cobiço, almejo, ou temo
De ti, só de ti pende: oh! nunca saibas
Com quanto amor eu te amo, e de que fonte
Tão terna, quanto amarga o vou nutrindo!
Esta oculta paixão, que mal suspeitas,
Que não vês, não supões, nem te eu revelo,
Só pode no silêncio achar consolo,
Na dor aumento, intérprete nas lágrimas.


————


De mim não saberás como te adoro;
Não te direi jamais,
Se te amo, e como, e a quanto extremo chega
Esta paixão voraz!


Se andas, sou o eco dos teus passos;
Da tua voz, se falas;
o murmúrio saudoso que responde
Ao suspiro que exalas.


No odor dos teus perfumes te procuro,
Tuas pegadas sigo;
Velo teus dias, te acompanho sempre,
E não me vês contigo!


Oculto e ignorado me desvelo
Por ti, que me não vês;
Aliso o teu caminho, esparjo flores,
Onde pisam teus pés.


Mesmo lendo estes versos, que m'inspiras,
— "Não pensa em mim", dirás:
Imagina-o, se o podes, que os meus lábios
Não to dirão jamais!


————


Sim, eu te amo; porém nunca
Saberás do meu amor;
A minha canção singela
Traiçoeira não revela
O prêmio santo que anela
O sofrer do trovador!


Sim, eu te amo; porém nunca
Dos lábios meus saberás,
Que é fundo como a desgraça,
Que o pranto não adelgaça,
Leve, qual sombra que passa,
Ou como um sonho fugaz!


Aos meus lábios, aos meus olhos
Do silêncio imponho a lei;
Mas lá onde a dor se esquece,
Onde a luz nunca falece,
Onde o prazer sempre cresce,
Lá saberás se te amei!


E então dirás: "Objeto
Fui de santo e puro amor:
A sua canção singela;
Tudo agora me revela;
Já sei o prêmio que anela
O sofrer do trovador.


"Amou-me como se ama a luz querida,
Como se ama o silêncio, os sons, os céus,
Qual se amam cores e perfume e vida,
Os pais e a pátria, e a virtude e a Deus!"

Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, – mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada;
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti, - Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta sofrer, por tudo eu te amo.
(...)



DIAS, Gonçalves. “Como eu te amo”.
In: Poesia completa e prosa escolhida.
Rio de Janeiro, Aguilar, 1959 p. 128.