As redes do Ceará têm o punho grosso e são embelezadas com varandas de crochê. Todo bom cearense adora dormir, fazer amor, preguiçar e até convalescer de doença grave numa rede gostosa.
As mangas do Ceará são carnudas. A casca da manga-rosa parece uma aquarela onde se misturam amarelo, vermelho e verde. Seu perfume acaba com qualquer fastio. Já os abacates são enormes, tão grandes que passariam por melancias se não crescessem no alto do abacateiro. A siriguela é a melhor fruta do mundo. Isto é, se for colhida madura, no pé. Não tem uva moscatel que calce o seu chinelo.
A farinha do Ceará é torrada com manteiga, colorau, cebola e alho para virar a melhor farofa do universo. Pense numa coisa boa! Só na cozinha cearense se come feijão verde com queijo coalho, arroz branquinho, ovo frito, bife e a legítima farofa cobrindo tudo.
O sotaque do Ceará é manhoso. Quando quer ganhar, conquistar ou convencer alguém, o cearense parece entoar um chorinho, de tão meloso. Seu português é libidinoso; uma verdadeira cantada. E quando a namorada pede, “meu bichim, vem cá”? Não há cabra macho que resista.
A chuva do Ceará é torrencial. Se São Pedro não se fizer de rogado, no inverno caem enxurradas, verdadeiros dilúvios. Que não é inverno coisa nenhuma! Só um tempo molhado e de muito mormaço. As chuvas duram no máximo cinco ou seis horas, mas vazam telhados e enchem bicas. A meninada toma banho de chuva e nada em poças que viram piscina de pobre. Bastam alguns milímetros d’água para que os garranchos cinzentos da caatinga verdejem, no mais formidável milagre da natureza.
O pôr-do-sol do Ceará é rápido. Mas sempre espetacular, principalmente para quem assiste de cima de uma duna. O governo estadual deveria cobrar dos turistas, “O Show do Mar Engolindo o Sol”. E para coroar, no lusco fusco sopra uma brisa calma e refrescante como se Deus ligasse o ar condicionado celestial.
Ceará, meu Ceará, amo-te tanto!
Ricardo Gondim
Ricardo Gondim
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